Um ano depois, o gaúcho conta: criadora de búfalos, Desiree Möller, conta como enfrentou a enchente no Guaíba
Criadora de búfalos relata perdas, resgates e a resistência dos animais durante a enchente no RS

Imagem: arquivo pessoal
A produtora rural Desiree Möller, presidente da ASCRIBU e vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, vive em Itapuã, distrito vizinho de Porto Alegre. Um ano após a enchente histórica de 2024, ela compartilha um relato marcante sobre a resiliência dos búfalos e dos criadores gaúchos.
Segundo Desiree, o estado do Rio Grande do Sul conta com cerca de 50 mil búfalos. Embora apenas dois criadores tenham sido diretamente afetados, os impactos foram profundos: um deles, em Venâncio Aires, perdeu todo o rebanho. O outro, que mantinha cerca de 400 búfalos em uma ilha no Rio Guaíba, conseguiu retirar apenas metade dos animais antes que as águas subissem quase cinco metros.
O restante dos animais foi arrastado pela correnteza. Ainda assim, muitos deles conseguiram sobreviver e apareceram dias depois em Porto Alegre, em áreas urbanas e pontos turísticos. Graças à rusticidade e aos hábitos aquáticos da espécie, mais de 40 búfalos foram localizados e resgatados com vida.
Episódios que mais marcaram
Um dos episódios mais impressionantes foi o da búfala de Venâncio Aires que, após ser levada pelas águas, percorreu 140 km rio abaixo e foi encontrada em uma das ilhas próximas à capital. A identificação só foi possível graças aos brincos de rastreamento dos animais.
A propriedade da própria Desiree também foi invadida pela água. Toda a lavoura de arroz foi perdida, assim como metade dos campos de pastejo dos búfalos. Mesmo com o barro e a areia trazidos pela enchente, os animais conseguiram se alimentar — um reflexo da rusticidade da espécie.
No entanto, os efeitos se refletiram no desempenho dos terneiros: enquanto em anos anteriores a média de desmame era de 312 kg, em 2024 esse número caiu para 280 kg. A combinação de frio intenso, chuvas prolongadas e falta de luminosidade comprometeu o crescimento dos animais.
Solidariedade e continuidade no campo
Após a enchente, a escassez de pasto se agravou. A situação só foi amenizada graças às doações de feno, ração e silagem recebidas de todo o Brasil, que foram fundamentais para manter os animais de produção alimentados.
“Foi uma catástrofe que impactou todos: perdemos equinos, suínos, bovinos de leite e corte. Mas seguimos. Continuamos por quem se alimenta do que produzimos”, afirma Desiree.
Sobre a série “Um ano depois, o gaúcho conta”
A série reúne relatos reais de produtores da pecuária gaúcha impactados pelas enchentes de 2024. São histórias de resiliência e reconstrução, contadas por quem vive do campo e segue enfrentando os desafios do clima com força e solidariedade. Mande sua história também!